A religião africana, comumente referida como Africanismo ou Nação, teve suas raízes trazidas ao Brasil pelos negros escravos que chegaram em grandes navios nos porões abarrotados. Esses escravos vinham em centenas e, posteriormente, aos milhares, provenientes de diversas nações africanas, incluindo Nigéria, Jeje, Oyó, Igejá, Cambinda, Congo, Moçambique e outras. Este artigo explorará a origem, desenvolvimento e influência desta rica tradição no Brasil.
A Chegada dos Africanos e a Formação da Nação
A base do Africanismo no Brasil está profundamente enraizada na cultura de grandes grupos africanos como os Bantu e os Sudaneses, oriundos da Costa do Ouro e das Costas dos Escravos. Essas populações, distribuídas por centenas de nações africanas, enfrentaram um trágico deslocamento que dificultou o levantamento preciso de suas origens. A situação foi agravada pela decisão do político Rui Barbosa, que, após a abolição da escravatura, ordenou a queima de todos os arquivos contendo provas e documentos oficiais e extra-oficiais sobre a escravidão negra no Brasil. Este ato irreparável apagou um importante registro histórico, tornando impossível um levantamento verdadeiro das origens africanas.
Tráfico de Escravos e a Cultura Africana no Brasil
O tráfico de escravos negros iniciou-se no século XVI e estendeu-se até o século XIX. Hoje, podemos contar com mais de 400 anos de existência da cultura negra no Brasil, e, consequentemente, da religião africana. No Rio Grande do Sul, predominou o grupo Sudanês, que identifica os negros e as nações da Costa da Guiné ou Nigéria, particularmente na região de Benin, uma cidade milenar com mais de 6.000 anos de história. As nações ou lados de Gagê, Igejá e Oyó são alguns dos principais representantes dessa herança cultural.
A Diversidade dos Bantus e a Necessidade de Comunicação
Os Bantus, representando os Congos, Angola, Cabulas e Cambindas, foram um dos grupos que trouxeram uma rica diversidade cultural. A necessidade de comunicação entre os africanos escravizados de diferentes etnias e dialetos fez com que houvesse uma miscigenação entre as nações, resultando em combinações como Gagê-Igejá, Oyó-Gagê e Oyó-Igejá. Este processo de miscigenação cultural permitiu que tanto os de origem Bantu quanto os Sudaneses praticassem a mesma religião, embora com liturgias, fundamentos e feitura de Orixás diferentes, além de pequenas diferenças nas rezas e na hierarquia desses Orixás.
Sincretismo Afro-Católico
Com a chegada dos escravos africanos ao Brasil, eles foram impedidos de cultuar seus Deuses ou Divindades (Orixás), pois os senhores brancos os obrigavam a aderir ao catolicismo. A imposição religiosa trouxe castigos e prisões para aqueles que resistiam. Essa opressão resultou na necessidade do sincretismo Afro-Católico, que ligou figuras católicas a divindades africanas. São Jorge foi sincretizado com Ogum, Santo Antônio com Bará, São João com Xangô, Nossa Senhora da Conceição com Oxum, Nossa Senhora do Rosário e Navegantes com Iemanjá, e Jesus Cristo com Oxalá. Este sincretismo foi essencial para a sobrevivência da religião africana em solo brasileiro.
Reflexões Finais
A preservação da religião africana no Brasil é um testemunho da resiliência e adaptação dos negros escravizados. A sinergia entre o catolicismo e o Africanismo permitiu que muitos aspectos das tradições africanas fossem mantidos vivos, mesmo em um ambiente opressor. A reflexão sobre essa história revela a profundidade e a antiguidade da espiritualidade africana, com figuras como Pai Oxalá possuindo uma história de cerca de 6.000 anos, contrastando com os 2.000 anos de Jesus Cristo. Esta comparação destaca a necessidade de uma reflexão profunda sobre a importância e a influência da religião africana na cultura brasileira.
A história do Africanismo no Brasil é uma jornada de dor, resistência e preservação cultural. Através da miscigenação e do sincretismo, os africanos escravizados conseguiram manter viva uma rica tradição espiritual que continua a influenciar a cultura brasileira até hoje.