O Batuque é uma religião de matriz africana amplamente praticada no Rio Grande do Sul. Suas raízes estão nas tradições dos povos iorubás, trazidos como escravos para o Brasil, e ao longo dos anos, o Batuque se desenvolveu como uma expressão religiosa única, especialmente no sul do país. Dentro dessa tradição, Bara se destaca como uma das divindades mais importantes, sendo o senhor dos caminhos, das encruzilhadas e o principal responsável pela comunicação entre o mundo espiritual e o mundo material.
Quem é Bara?
Bara é uma das divindades mais reverenciadas no Batuque do Rio Grande do Sul. Ele é frequentemente comparado ao orixá Exu do candomblé, mas no contexto do Batuque, sua figura é ainda mais complexa e vital para o funcionamento dos rituais religiosos. Bara é o mensageiro dos orixás, o intermediário entre os deuses e os seres humanos. É ele quem assegura que os pedidos e oferendas feitas aos orixás cheguem a seus destinos e que as bênçãos dos orixás alcancem os fiéis.
Orixá Bara: Guardião e Mensageiro
Bara é o mensageiro divino, o guardião dos templos, casas e cidades. Ele é o dono de todas as portas, de todas as chaves e de todos os caminhos. Sua importância é tamanha que é reverenciado em primeiro lugar em todos os terreiros de nação africana, recebendo suas oferendas nas encruzilhadas. Bara é a força que abre caminhos e possibilita o fluxo de comunicação entre os mundos. Se você está atrapalhado, sem emprego, sem rumo, ou deseja realizar qualquer tipo de negócio, apegue-se a este Orixá, pois Bara pode te dar a solução.
Não existe nenhum terreiro de tradição africana que não tenha o assentamento de Bara. Ele é o princípio e o fim de tudo, sendo o primeiro a receber ritual até após a morte de um iniciado na religião. Bara é uma força essencial, e Olorum concedeu-lhe o privilégio de receber as oferendas em primeiro lugar. Sem ele, as orações dos fiéis não seriam ouvidas por nenhum outro Orixá, nem mesmo no Orum (mundo espiritual).
O dia da semana consagrado a Bara é a segunda-feira, e sua cor principal é o vermelho. O Batuque do Rio Grande do Sul cultua várias qualidades de Bara, cada uma com características específicas e atribuições distintas.
As Qualidades de Bara no Batuque
- Bara Lodê: Também conhecido como Olodê, é o guardião da parte externa do templo. Seu assentamento é feito do lado de fora do templo, muitas vezes em uma casinha vermelha na parte frontal. Ele divide sua morada com Ogum Avagãn. Bara Lodê é o Orixá que mantém a estrutura do templo; a sustentação dos terreiros depende dele. É o primeiro a ser saudado ao entrar em um terreiro de Batuque.
- Bara Adague: Recebe suas oferendas nas encruzilhadas e seu assentamento é feito dentro do templo. É um dos Barás mais requisitados, pois faz a frente de Ogum, Oyá, Xangô, Odé, Otim, Obá, Ossãe e Xapanã.
- Bara Lanã (Onã): Trabalha nos cruzeiros (encruzilhadas) e tem as mesmas atribuições do Bara Adague, sendo o guardião da porta do templo. Ele também responde nos cruzeiros de mato.
- Bara Agelú (Jelú): Este Bara faz a frente dos Orixás de água, como Oxum, Yemanjá e Oxalá. Além do azeite de dendê (epô), usa-se mel em suas oferendas. Agelú é o guardião dos orixás associados à água e das areias da praia.
- Bara Elegbará: Assim como Lodê, também faz a segurança da parte externa do templo, mas dentro do fundamento da Nação de Kambina (Cabinda)
Características de Bara
Bara é identificado como Exu devido a características peculiares como irreverência, arrogância e astúcia. Ele é o dono das chaves dos portais, encruzilhadas e caminhos. Suas saudações, obrigações e cortes devem ser feitos em primeiro lugar. No Batuque, os Barás dividem-se basicamente em dois grupos:
- Os de dentro de casa: Bará Agelú, Lanã, Adague, etc., considerados mais calmos.
- Os de fora de casa: Bará Lodê, o “Bará da Rua”, considerado violento e, por isso, muito respeitado.
Bara é o mais humano dos orixás, adorando agrados e oferendas. Detesta água e chuva, e em dias chuvosos é inútil lhe entregar oferendas, sendo melhor guardá-las para outro momento.
Sincretismo Religioso
Bara é sincretizado com diferentes santos católicos:
- Bará Lodê: Sincretizado com São Pedro ou São Benedito, dependendo da adjuntó (união) com outros orixás.
- Bará Lanã: Sincretizado com Santo Antônio do Pão dos Pobres.
- Bará Adague: Sincretizado com Santo Antônio.
- Bará Agelú: Sincretizado com o Menino do Colo do Santo Antônio.
Filhos de Bara
Os filhos de Bara possuem um caráter ambivalente, sendo ora inteligentes e compreensivos, ora bravos e intrigantes. Gostam de viagens, passeios, jogos e bebidas, mas também são suscetíveis a intrigas e rancores. Eles são comerciantes habilidosos e espertos, capazes de alcançar seus objetivos com dedicação.
Bara é a contração da palavra yorubá Elegbara, que significa “O possuidor do poder”. No Batuque, Bara é a denominação do orixá Exu e é visto como o mais humano dos deuses africanos. Ele é prestativo e presente, garantindo que todos os caminhos sejam abertos ou fechados conforme o merecimento. Sempre o primeiro a ser servido, Bara é fundamental para o bom andamento dos rituais e das vidas dos devotos.
No passado, as obrigações para Bara eram exclusivas dos homens, mas hoje, algumas mulheres também são aprontadas para o orixá, especialmente as qualidades de dentro do templo, como Lanã, Adague e Agelú. Contudo, a essência de Bara permanece ligada à virilidade e à força masculina.
Por tudo isso, Bara continua a ser um dos pilares fundamentais do Batuque, preservando e honrando as raízes africanas no Brasil, com seu papel indispensável na abertura de caminhos e na proteção dos devotos.
